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quarta-feira, 22 de abril de 2015

Visita do dia 19.04.2015

Relatório Noir (segura pra não cair)




Para melhor leitura deste caso aconselhamos fazê-lo ao som desta trilha sonora: 




Mais um dia, mais uma tarde. As pestanas levemente pesadas após uma boa refeição. Mas não seria isso que nos tiraria o foco de nossa missão vespertina.
O dia é 19 de abril de 2015. Aguardamos ansiosos por àquela hora, aquele momento em que nos encontramos frente a frente, nariz com nariz e juntos encaramos a face de mais um grande mistério que nos seria revelado. Juntos os Doutores, Berinjela, Cuca, Venâncio, Wally e eu nos preparamos e após um breve momento de contemplação rumamos ao elevador que nos elevaria aos pavimentos superiores do IC. Juntamente conosco seguem alguns novatos, estagiários por assim dizer. Corações palpitantes em busca de adrenalina e até mesmo quem sabe talvez, algum aprendizado. A experiência pelos corredores do hospital em breve lhes consumirá até os nomes e não mais serão Aline, Andressa, Arthur, Guilherme, Igor, Marcela e Patrícia. Mas deixemos isso para outro momento oportuno. Por hoje, precisamos nos focar no caso da semana.


Idas e vindas, chegadas e partidas, uma grande movimentação pelos corredores, pelas ruas e até mesmo por todo país. Faz-se necessário que decifremos este mistério. Um calafrio percorre minha espinha assim que saímos do elevador. Um sinal de que há uma verdade que permeará as diversas histórias que iremos recolher, ou apenas o ar condicionado na parede, descobriremos em breve.
Primeiro encontro, Dona Sonia, nossa entrada em seu quarto coincide com a entrada de mais alguém. Rapidamente ela demonstra sua felicidade em nos ver. Ou talvez seja por ver seu filho que entrara conosco. Para não corrermos nenhum risco dizemos que viemos lhe entregar o filho amado. Ela retribui dizendo que nossa entrega é melhor do que de entregador de pizza. Que pizza seria essa? Seria um código para algum entrega especial, talvez o motivo de estarmos neste caso?
No próximo quarto nos encontramos com Dona Teresinha que, mesmo sendo amorosamente bem cuidada pelo seu marido, nos presenteia com as palavras que viemos em busca. Um convite para viajarmos, sairmos desta cidade rumo ao Tocantins tendo como desculpa experimentarmos seu delicioso doce de buriti. Mais um código, visita que segue.
Dona Francisca nos delicia com uma épica trama de quase partidas. Estava viajando com destino a terras estrangeiras, mas ao passar por nossa cidade algo a prendeu. Um mal que acomete ao coração, uma força maior que nos paralisa. O que seria apenas uma breve escala se transforma em estadia e aqui estamos nós vivenciando este emaranhado de estórias.
Ao abrirmos a próxima porta nos deparamos com mais um visitante de terras distantes e de costumes pitorescos. Seu Oswaldo nos relata sua antiga paixão. Não uma morena de olhar arrebatador e caminhar sedutor, mas sim uma cuíca e uma escola chamada Mangueira. Damas que batucaram seu coração, mas que ao se distanciarem o trouxeram até aqui, mais um ponto de encontro de muito viajantes até então sem nenhum vínculo além do fato de que vieram de longe em busca de algo que cada vez mais aguça minha curiosidade. Algo que vem ganhando inúmeras alcunhas e que por fim se mostrará de valor inestimável.
Após dezenas de quartos, incontáveis estórias, 42 rostos na enfermaria, 27 nas UTIs, enfim chegamos ao cerne de toda trama da tarde. Seu nome, Seu José, ou melhor dizendo, Comendador José. Este foi o título que conquistou e a nós revelou. O motivo de tanta nobreza nada mais era do que seu novo fígado recém-implantado, órgão de tanto valor que fora batizado de nada menos do que Diamante. Naquele momento pude ver nitidamente todos os fatos se encaixando como num grande quebra-cabeças de 0 a 2 anos. O motivo de tantas viagens, tantos encontros naquele local, por fim se resumia ao mais trivial de todos os motivos, um tesouro escondido, uma pedra lapidada e preciosa guardada dentro de cada um que por ali passara.

Mais um mistério dissolvido e ao voltarmos pelos corredores, naquele labirinto de concreto e sentimentos ouço uma voz longínqua e tremula ao me chamar: Dr. Fiote. Seria alguém temendo que revelássemos os tesouros descobertos? Alguém capaz de qualquer ato passional para manter a integridade de tamanho segredo? Vagarosamente olho pra trás, convicto de uma possível reviravolta final, mas não vejo ninguém. Então reviro e volto.